PAPO CEREBRAL
Por Jemima Morais Veras
Esse é um texto de ficção: qualquer semelhança com nomes de pessoas, cérebros ou acontecimentos terá sido uma mera coincidência.
João e Maria, duas pessoas bastante ansiosas, adormeceram com suas cabeças unidas, talvez isso tenha favorecido que ocorresse um diálogo cerebral. Isso mesmo, seus cérebros interagiram, conversaram:
- Oi, boa noite!
- Olá, boa noite!
- Tudo bem?
- Estou meio exausto. O dia hoje não foi fácil. Maria teve mais um momento difícil de ansiedade. Tive que me esforçar bastante para prepará-la para enfrentar a situação.
- Caramba! Sei o que é isso... João foi assaltado na semana passada.
- Que chato. Sinto muito. E como foi?
- Estava eu, tranquilo, desempenhando minhas funções quando chegou uma mensagem de alerta, no meu tálamo: “PERIGO! PERIGO!”. Rapidamente entrei em contato com meu hipocampo e sugeri que consultasse seu banco de dados e avaliasse a mensagem que acabara de chegar, ele entendeu que precisava agir rápido porque constatou que a coisa era séria e entrou em contato com a minha amígdala e ela “como um gato” acionou o sistema nervoso simpático que ativou o mecanismo de luta e fuga e preparou João para ação.
- É aí, ele te entendeu?
- Não, é difícil entender. Na hora ele ficou pálido e ainda com os pés e as mãos gelados, acho que até sentiu dormência. Pois é, precisei fazer isso. Reduzi os níveis de sangue da pele, das mãos e dos pés, para que ele não tivesse hemorragia, caso se ferisse. Parte desse sangue deslocado das extremidades, direcionei para os grandes músculos (bíceps e coxas) preparando o corpo dele para a ação.
- Sei que você só quis ajudar. Outro dia Maria foi fazer uma prova e precisei ajudá-la. Entendi que estava em perigo. Quero deixar claro que não fiz nada da minha cabeça, só fiz o meu papel. Fiz tudo isso que você fez, amigo! Quando o mecanismo de luta e fuga foi ativado, ela começou a suar, porque aumentei a função das suas glândulas sudoríparas para produzir mais suor, possibilitando que seu o corpo ficasse mais escorregadio, dificultando que fosse agarrada numa situação de luta. Também fiz isso para evitar que tivesse um aumento acentuado da temperatura. Mas quando ela começou a suar entendeu que ia desmaiar e não ficou bem.
- Que pena, né? Não entendem que quando o mecanismo de luta e fuga é ativado ocorrem mudanças no corpo. Essas mudanças geram sensações desconfortáveis, mas que não causam prejuízos ao organismo. Graças a esse sistema de defesa, garantimos a sobrevivência da nossa espécie.
Vou te contar um segredo: João quando vai chegar numa menina fica assustado, entendo que precisa de ajuda e faço o possível. Faço sua respiração ficar mais rápida e profunda, para que os seus tecidos recebam mais oxigênio, objetivando com isso preparar o corpo para a ação . Mesmo tendo as melhores das intenções, tudo isso causa sensação de falta de ar, sufocamento, dor no peito, confusão mental... Queria dizer pra ele: “CALMA, JOÃO! EU SÓ QUERO TE AJUDAR, TÔ PREPARANDO SEU CORPO PRA VOCÊ CONSEGUIR CONQUISTAR ESSA MENINA. TÁ ENTENDENDO TUDO ERRADO. VOCÊ PODE ATÉ ACHAR QUE VAI TER UM PIRIPAQUE, MAS SE INSISTIR UM POUQUINHO, O MAL-ESTAR PASSA. NÃO DEIXE DE VIVER AS COISAS BOAS DA VIDA, APROVEITE MAIS!”
- Pois é, amigo. Considero que o conhecimento das informações acima ajuda a entender o que se passa com o corpo durante um momento de ansiedade mais acentuada. Os sintomas da ansiedade vão diminuindo à medida que as substâncias liberadas vão sendo distruídas por outras substâncias. Depois nós acionamos nosso sistema parassimpático e restabelecemos o organismo. A tendência é que fique tudo bem.
- Cada pessoa tem uma forma de funcionar diante de uma situação de perigo. A impulsividade, a agressividade, acontecimentos da história de vida, características genéticas, características adquiridas ao longo do desenvolvimento, desesperança, dificuldade de lidar com a frustração, as crenças sobre si mesma, sobre os outros e sobre o mundo... Tudo isso exerce influência no momento em que a pessoa está diante de uma ameaça externa ou interna, real ou imaginária. Determinando como avaliará o grau da ameaça e sua capacidade para o enfrentamento.
- Então, seria muito importante que nos momentos de ativação do sistema simpático, quando estiver com taquicardia, suando, com visão turva, com mãos e pés gelados... Pense como está sua vida, tente pensar sobre suas questões de forma mais adaptativa, fique atento a forma como está respirando - a respiração inadequada faz a manutenção dos sintomas da ansiedade, pense nas ferramentas que possui para resolver o que é necessário, questione a ameaça – análise se ela é tão grande e tão forte quanto parece.
- Concordo totalmente. É necessário tentar seguir, tentando encontrar as respostas para nossa ansiedade e achar recursos próprios para obter o bem-estar. Caso isso não seja possível, então devemos solicitar a ajuda de um especialista.
- Amigo, vou te contar uma coisa: QUE PAPO MAIS CABEÇA!
- É mesmo, até a próxima. Psiu! Eles já estão acordando.
Por Jemima Morais Veras
Esse é um texto de ficção: qualquer semelhança com nomes de pessoas, cérebros ou acontecimentos terá sido uma mera coincidência.
João e Maria, duas pessoas bastante ansiosas, adormeceram com suas cabeças unidas, talvez isso tenha favorecido que ocorresse um diálogo cerebral. Isso mesmo, seus cérebros interagiram, conversaram:
- Oi, boa noite!
- Olá, boa noite!
- Tudo bem?
- Estou meio exausto. O dia hoje não foi fácil. Maria teve mais um momento difícil de ansiedade. Tive que me esforçar bastante para prepará-la para enfrentar a situação.
- Caramba! Sei o que é isso... João foi assaltado na semana passada.
- Que chato. Sinto muito. E como foi?
- Estava eu, tranquilo, desempenhando minhas funções quando chegou uma mensagem de alerta, no meu tálamo: “PERIGO! PERIGO!”. Rapidamente entrei em contato com meu hipocampo e sugeri que consultasse seu banco de dados e avaliasse a mensagem que acabara de chegar, ele entendeu que precisava agir rápido porque constatou que a coisa era séria e entrou em contato com a minha amígdala e ela “como um gato” acionou o sistema nervoso simpático que ativou o mecanismo de luta e fuga e preparou João para ação.
- É aí, ele te entendeu?
- Não, é difícil entender. Na hora ele ficou pálido e ainda com os pés e as mãos gelados, acho que até sentiu dormência. Pois é, precisei fazer isso. Reduzi os níveis de sangue da pele, das mãos e dos pés, para que ele não tivesse hemorragia, caso se ferisse. Parte desse sangue deslocado das extremidades, direcionei para os grandes músculos (bíceps e coxas) preparando o corpo dele para a ação.
- Sei que você só quis ajudar. Outro dia Maria foi fazer uma prova e precisei ajudá-la. Entendi que estava em perigo. Quero deixar claro que não fiz nada da minha cabeça, só fiz o meu papel. Fiz tudo isso que você fez, amigo! Quando o mecanismo de luta e fuga foi ativado, ela começou a suar, porque aumentei a função das suas glândulas sudoríparas para produzir mais suor, possibilitando que seu o corpo ficasse mais escorregadio, dificultando que fosse agarrada numa situação de luta. Também fiz isso para evitar que tivesse um aumento acentuado da temperatura. Mas quando ela começou a suar entendeu que ia desmaiar e não ficou bem.
- Que pena, né? Não entendem que quando o mecanismo de luta e fuga é ativado ocorrem mudanças no corpo. Essas mudanças geram sensações desconfortáveis, mas que não causam prejuízos ao organismo. Graças a esse sistema de defesa, garantimos a sobrevivência da nossa espécie.
Vou te contar um segredo: João quando vai chegar numa menina fica assustado, entendo que precisa de ajuda e faço o possível. Faço sua respiração ficar mais rápida e profunda, para que os seus tecidos recebam mais oxigênio, objetivando com isso preparar o corpo para a ação . Mesmo tendo as melhores das intenções, tudo isso causa sensação de falta de ar, sufocamento, dor no peito, confusão mental... Queria dizer pra ele: “CALMA, JOÃO! EU SÓ QUERO TE AJUDAR, TÔ PREPARANDO SEU CORPO PRA VOCÊ CONSEGUIR CONQUISTAR ESSA MENINA. TÁ ENTENDENDO TUDO ERRADO. VOCÊ PODE ATÉ ACHAR QUE VAI TER UM PIRIPAQUE, MAS SE INSISTIR UM POUQUINHO, O MAL-ESTAR PASSA. NÃO DEIXE DE VIVER AS COISAS BOAS DA VIDA, APROVEITE MAIS!”
- Pois é, amigo. Considero que o conhecimento das informações acima ajuda a entender o que se passa com o corpo durante um momento de ansiedade mais acentuada. Os sintomas da ansiedade vão diminuindo à medida que as substâncias liberadas vão sendo distruídas por outras substâncias. Depois nós acionamos nosso sistema parassimpático e restabelecemos o organismo. A tendência é que fique tudo bem.
- Cada pessoa tem uma forma de funcionar diante de uma situação de perigo. A impulsividade, a agressividade, acontecimentos da história de vida, características genéticas, características adquiridas ao longo do desenvolvimento, desesperança, dificuldade de lidar com a frustração, as crenças sobre si mesma, sobre os outros e sobre o mundo... Tudo isso exerce influência no momento em que a pessoa está diante de uma ameaça externa ou interna, real ou imaginária. Determinando como avaliará o grau da ameaça e sua capacidade para o enfrentamento.
- Então, seria muito importante que nos momentos de ativação do sistema simpático, quando estiver com taquicardia, suando, com visão turva, com mãos e pés gelados... Pense como está sua vida, tente pensar sobre suas questões de forma mais adaptativa, fique atento a forma como está respirando - a respiração inadequada faz a manutenção dos sintomas da ansiedade, pense nas ferramentas que possui para resolver o que é necessário, questione a ameaça – análise se ela é tão grande e tão forte quanto parece.
- Concordo totalmente. É necessário tentar seguir, tentando encontrar as respostas para nossa ansiedade e achar recursos próprios para obter o bem-estar. Caso isso não seja possível, então devemos solicitar a ajuda de um especialista.
- Amigo, vou te contar uma coisa: QUE PAPO MAIS CABEÇA!
- É mesmo, até a próxima. Psiu! Eles já estão acordando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário